Quinta-Feira, 21 de Novembro de 2024
Após mais de seis décadas de espera, Estrada da Boiadeira deixa de ser lenda no Noroeste
Noroeste
Após mais de seis décadas de espera, Estrada da Boiadeira deixa de ser lenda no Noroeste
Noroeste / 18-02-2022

A imensa placa com detalhes em azul e verde virou ponto de parada para os mais empolgados. Há motivo. O carimbo “Paraná em obras”, em um dos marcos da Estrada da Boiadeira, formalmente batizada de BR-487, é a realização de um sonho que o Noroeste do Paraná já tinha aberto mão. Enfim, para tormento dos descrentes, a famosa rodovia que liga o Mato Grosso do Sul a Campo Mourão, passando por Umuarama e Cruzeiro do Oeste, vai sair do papel. Com direito a asfalto, iluminação, tinta, sinalização e tudo mais a que tem direito.

“Meu pai veio para cá há 55 anos, do interior de São Paulo, para comprar um terreno. E desde essa época ele já falava dessa tal Estrada da Boiadeira, que passaria bem perto do sítio. De lá para cá o projeto mudou umas 50 vezes e nada. Só agora que realmente está acontecendo”, revela a comerciante Adelzira Martins Teixeira, dona de uma vistosa loja de roupas, brinquedos, utensílios e um pouco mais, em uma das esquinas mais vivas da pequena Icaraíma, cidade de pouco mais de 7.600 habitantes, o último ponto paranaense antes da divisa com o Mato Grosso do Sul.

A mudança de humor da empresária veio quando os primeiros quilômetros de asfalto substituíram a terra vermelha batida, em 2020, e reflete o estado de espírito que tomou conta dos moradores dos municípios que serão beneficiados pela travessia. “Vai melhorar muito a nossa vida”, afirma Maria Madalena da Silva Emerim, braço direito da dona Adelzira na loja de armarinhos e uma entusiasta da nova Boiadeira. “Agora vai”, emenda.

MARCO IMPORTANTE  -  A obra atingiu um marco importante agora nos primeiros dias de fevereiro. Está 80% concluída e, salvo algum problema muito fora da curva, ficará pronta no segundo semestre deste ano. “Há mais de 50 anos que se fala desta estrada. Quando assumi o governo, em 2019, prometi que ia tirar esse sonho das pranchetas. Está aí, quase pronta, uma ligação com potencial fantástico de fomentar o turismo e resultar em mais desenvolvimento para o Noroeste. E não há mais dúvidas de que infraestrutura é essencial para gerar mais empregos”, destaca o governador Carlos Massa Ratinho Junior.

ESTRUTURA - A restauração, implantação e pavimentação da Boiadeira é uma das intervenções mais emblemáticas em andamento no Paraná e só perdeu o status de lenda graças à costura política que resultou no convênio entre o Governo do Estado, por meio do Departamento de Estradas de Rodagem (DER/PR), o governo federal, via Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), e a Itaipu Binacional.

“A proposta do Corredor da Boiadeira é antiga. Quando minha família chegou aqui, em 1957, se falava que ficaria pronta em 1962. E veja como são as coisas. Só agora, quase 60 anos depois, é que está sendo executada”, conta o prefeito de Icaraíma e presidente da Associação dos Municípios de Entre Rios (Amerios).

Com a experiência de quem lidera o grupo de 23 cidades e cerca de 500 mil pessoas afetadas diretamente, ele elenca as vantagens que acompanham a transformação da Boiadeira. “Mais da metade da obra é aqui em Icaraíma. Para nós vai movimentar e incentivar o turismo, possibilitando um novo acesso à prainha de água doce que temos aqui. E a partir daí mexer com a economia, o comércio, gerar emprego”, afirma.

“Sem contar também o barateamento dos custos para quem precisa escoar à safra”, emenda Oliveira, estimando em mais de 30 minutos a economia de tempo para quem precisa vencer os 85 quilômetros entre Icaraíma e Umuarama. “Médico, trabalho, estudo… Dependemos muito de Umuarama”, diz Maria Madalena.

“Esse convênio revela a preocupação do Governo do Estado com o Noroeste. O governador Ratinho Junior abraçou a causa, se mostrou um grande municipalista, que olha para todas as regiões do Paraná”, reforça o prefeito.

DIVISÃO POR LOTES - A Boiadeira foi dividida em três lotes e as obras atuais fazem parte do chamado Lote 1. O DNIT está concluindo o chamamento da empresa que venceu a licitação do Lote 2, entre a Serra dos Dourados e Cruzeiro do Oeste. Serão 37 quilômetros de obras, passando pela localidade de Lovat e coexistindo com a PR-323.

Essas conexões alcançam o Lote 3, o primeiro a sair do papel, em 2013, entre Cruzeiro do Oeste e Campo Mourão. Há expectativa de encerrar a revitalização da Boiadeira nos próximos cinco anos, com mais de 150 quilômetros no Paraná. Essa será uma das principais ligações do Paraná com o Mato Grosso do Sul, os dois maiores produtores agrícolas do País.

“Tudo isso se reflete nos custos logísticos da produção. O ganho de eficiência no transporte representa uma transformação para a região”, afirma Ratinho Junior.

BIOCEÂNICO – A rodovia ligará o Noroeste do Estado à cidade sul-mato-grossense de Porto Murtinho, ponto de conexão com o chamado Corredor Bioceânico, projeto multimodal que pretende unir os portos brasileiros de Paranaguá e Santos (SP) aos portos do Norte do Chile, no Oceano Pacífico.

A pavimentação da Boiadeira também possibilitará a interligação com uma rodovia de mais de 2,4 mil quilômetros entre Campo Grande (MS) e o Porto de Antofagasta, no Chile, reduzindo em até duas semanas o tempo de viagem das exportações do Centro-Oeste do Brasil até países como China, Japão e Coreia do Sul, e a ajudará na atratividade de novos e importantes mercados do Pacífico como Indonésia, Filipinas e Austrália.

PARCERIA - O projeto da Estrada da Boiadeira faz parte de um conjunto de obras financiadas pela margem brasileira de Itaipu e executadas pelo Governo do Estado, em um pacote que soma R$ 1,4 bilhão em investimentos. Há também a construção da Ponte da Integração Brasil-Paraguai, entre Foz do Iguaçu e Presidente Franco; a duplicação da BR-469, a Rodovia das Cataratas, e a ampliação da pista do Aeroporto Internacional do Iguaçu, também em Foz; o Contorno de Guaíra; a duplicação do Contorno Oeste e da BR-277, em Cascavel; a revitalização da Ponte Ayrton Senna, em Guaíra; a implementação de iluminação viária em trechos da BR-277, na região Oeste; e a ligação entre Ramilândia e Santa Helena.

“Era tudo o que a gente precisava”, fecha dona Adelzira.

Fonte: AEN


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