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Empresa destrói lavoura do MST destinada a doação de alimentos na pandemia
Coronavírus
Empresa destrói lavoura do MST destinada a doação de alimentos na pandemia
Rondon / Coronavírus / 04-07-2020

Essa notícia você não vai ler em nenhum jornal nem ver na televisão. Vem de um outro Brasil, que está fora da mídia. Aconteceu na sexta-feira, nos fundões do Brasil, lá onde a vida pulsa e a solidariedade move o trabalho de trabalhadores rurais, no acampamento Valdair Roque, de Quinta do Sol, no Paraná, que plantam hortaliças para doar a famílias carentes durante a pandemia.

Logo cedo, Victor Vicari Rezende, um dos proprietários da área, que pertencente à Usina Sabarálcool, acompanhado de 14 homens, alguns encapuzados, e de dois tratores, deu a ordem para a destruição das lavouras em fase de colheita plantadas por 50 famílias do Movimento Sem Terra (MST)

No mesmo dia, a Horta Comunitária Antonio Tavares, das comunidades Terra Livre e Mãe dos Pobres, doaram 1500 quilos de alimentos orgânicos a 35 famílias da Aldeia Indígena Alto Pinhal e ao Lar dos Idosos João Paulo II, em Clevelândia.

Desde o dia 9 de março, no início da pandemia, cerca de 100 acampamentos e assentamentos do MST no Paraná já doaram 246 toneladas de alimentos, 6.400 marmitas e 600 máscaras de tecido.

São dezenas de produtos distribuídos para centenas de famílias, em 126 municípios, onde o MST está presente: grãos, tubérculos, frutas, legumes, verduras, mel, ovos, pães, bolachas, queijos, galões de leite, uma feira completa com produtos da melhor qualidade.

Essas doações não aparecem no Jornal Nacional, mas são a salvação da lavoura para moradores das periferias, índios, idosos e desassistidos do poder público em geral.

Era para eles que estavam trabalhando os agricultores do acampamento Valdair Roque numa área da Fazenda Santa Catarina, de propriedade da Usina Sabarálcool, que responde a 964 ações trabalhistas, somente na comarca de Campo Mourão, quando os tratores chegaram para destruir tudo.

Só no final da tarde, a polícia foi até a comunidade, houve uma negociação e os tratores e capangas saíram da área. Mas as famílias seguem com medo de sofrer um novo ataque.

Há uma recomendação do Ministério Público Federal ao Incra, desde 2018, para que intervenha junto a esse conjunto de ações e execuções trabalhistas e compre a área para destiná-la à reforma agrária em benefício dos trabalhadores acampados.

O advogado das famílias, Humberto Boaventura, chama a atenção para a gravidade do ataque, diante do contexto da pandemia e do aumento acelerado de óbitos e casos de Covid-19 no Paraná.

"Essa ação feita hoje, que atinge diretamente a paz social das famílias na região, também é uma afronta às medidas de combate à pandemia que está instalada em nosso estado. Há um decreto do Tribunal de Justiça do Paraná suspendendo os despejos por tempo indeterminado, enquanto durar a pandemia".

Em maio, na inauguração da horta comunitária na comunidade de Quinta do Sol, que existe desde 2015, o coordenador do acampamento, Paulo Antonio Fagundes, reforçou o compromisso em avançar na produção para ajudar outras famílias.

"Tem muita gente desempregada e está fazendo falta a comida. Então vamos contribuir com eles, estender a mão pra que eles também tenham o alimento do dia a dia".

As famílias que seriam beneficiadas com a distribuição destes alimentos agora vão ter que esperar mais um pouco, para que nova horta seja semeada e possa ser colhida sem a ameaça dos tratores da usina.

A denúncia da destruição das lavouras foi apresentada nesta mesma sexta-feira em reunião virtual do Fórum por Direitos contra a Violência no Campo, que reúne 50 representantes de organizações da sociedade civil e do Poder Público, e será protocolada no Ministério Público Federal.

A Usina Sabarálcool não quis se manifestar.

Fonte: UOL COLUNA 

Ricardo Kotscho


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